Estamos cada vez mais informatizados. Trabalhamos de casa, fazemos compras pelo celular e conseguimos reunir amigos e família online. À medida em que aumentamos a presença de aparelhos eletroeletrônicos em nosso cotidiano, cresce também o volume de equipamentos que consumimos e descartamos. Números coletados em 2019 pela Faculdade Getúlio Vargas apontam que temos, no Brasil, cerca de 230 milhões de celulares ativos (quase um por habitante). Outros números mostram que os substituímos a cada 22 meses. Isso acontece com diversos produtos eletrônicos no nosso dia a dia e a forma com que fazemos o descarte deles merece especial atenção, pois oferece seríssimos impactos sociais e ambientais ao planeta.
Para entender melhor a influência das nossas decisões enquanto consumidores, convidamos Ademir Brescansin, gerente executivo da Green Eletron e especialista em gestão ambiental, para uma conversa sobre a importância do descarte responsável de aparelhos eletroeletrônicos, pilhas e baterias. Confira o bate-papo abaixo.
Por que é importante reciclar o lixo eletrônico?
São muitas as razões pelas quais devemos reciclar os nossos aparelhos eletroeletrônicos, pilhas e baterias danificados ou sem utilidade. Mas talvez a principal delas seja a questão ambiental: a reciclagem dos materiais que compõem um eletroeletrônico evita ou reduz em muito a extração de matérias-primas da natureza para a fabricação de um produto novo.
Trata-se também de uma questão energética. Setenta e cinco por cento da energia gasta na indústria é aplicada apenas na extração e refino da matéria-prima, segundo dados da Ellen MacArthur Foundation. Ao mesmo tempo, os recursos energéticos da Terra chegam perto do esgotamento a cada ano. O lixo eletrônico, quando inserido na logística reversa e reciclado, pode ser transformado em matéria-prima para a indústria, economizando energia, diminuindo a emissão de CO2 e ficando longe da natureza, onde pode ser prejudicial.
A logística reversa, portanto, é essencial para o nosso desenvolvimento sustentável?
Exato! A logística reversa é um sistema que oferece aos consumidores uma forma segura e sustentável de descartar aparelhos que não têm mais utilidade. Para as indústrias, é uma oportunidade para diminuir seu impacto no planeta e ainda gerar novas rendas, transformando-os em matéria-prima para outros processos industriais. Busca-se criar um sistema econômico mais equilibrado com um modelo circular de produção, onde tudo pode ser reutilizado.
E qual a importância econômica da reciclagem do lixo eletrônico?
Em 2019, o mundo produziu cerca de 50 milhões de toneladas de lixo eletrônico. A reciclagem de todo esse montante poderia render US$250 bilhões, segundo estimativas. É esse o potencial econômico da logística reversa. E mais, a reciclagem de uma tonelada de celulares usados pode render até 130 kg de cobre, além de ouro e prata. Estes materiais têm disponibilidade finita na natureza, mas são de grande importância para a indústria. Sua escassez pode causar problemas na cadeia produtiva, aumentando preços. A logística reversa nos oferece uma forma de evitar esse cenário.
De que forma a reciclagem de eletroeletrônicos auxilia a população?
A reciclagem de eletroeletrônicos pode criar novos postos de trabalho. Para que a logística reversa tenha sucesso, é importantíssimo o emprego de mão-de-obra qualificada em todos os estágios do ciclo. Além do que, abre caminho para o desenvolvimento de novas tecnologias e indústrias que gera mais empregos em outros setores.
A prática também possibilita um mundo mais sustentável e com menos poluição.
A logística reversa é obrigatória por lei?
Para fabricantes, importadores, distribuidores e o comércio, sim. Foi assinado em 2019 o Acordo Setorial para a Logística Reversa de Produtos Eletroeletrônicos e seus Componentes, documento que determina algumas metas estruturantes e de percentual de reciclagem de aparelhos de uso doméstico. Segundo o acordo, que é um complemento da Política Nacional dos Resíduos Sólidos (Lei 12.305), até 2025 deveremos ter mais de cinco mil pontos de coleta de lixo eletrônico nos 400 maiores municípios brasileiros, atendendo a cerca de 60% da população, facilitando o descarte de seus produtos.
Mas o sucesso desta medida depende também do comprometimento do consumidor, que deverá depositar suas pilhas, baterias e equipamentos sem uso no Ponto de Entrega Voluntária mais próximo da sua casa. Trata-se de um esforço conjunto.
Ademir Brescansin é engenheiro industrial mecânico e mestre em Gestão Ambiental e Sustentabilidade. Atua como gerente executivo da Green Eletron, entidade gestora de logística reversa de produtos eletroeletrônicos, criada pela Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee) em 2016.
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Lixo eletrônico: mundo bate recorde histórico de geração de resíduo -
[…] volume enorme de resíduos eletrônicos e a baixa reciclagem dos produtos trazem consequências ambientais graves. Isso porque muitos desses dispositivos, principalmente os mais antigos, têm metais pesados e […]